Quinta-feira, 28 de Julho de 2005

LISBOA

É em Lisboa que te encontro, que volto quando vens para chegar quando tu chegas.

Onde espero por ti como quem aguarda um cacilheiro no Martim Moniz, partilhando as saudades com as águas do Tejo.

E quando te avisto e tardas em te aproximar, caminho em tua direcção por entre as Colunas do Cais.

Solto o sorriso enquanto alargo o passo para mais depressa te encontrar e poder te abraçar.

Assim como as margens do rio embatem no Terreiro do Paço, sinto as formas do teu peito quando o aperto contra o meu.

Naquele instante, em que encostas os teus lábios nos meus, a Praça do Comércio é pequena demais perante a imensidão dos nossos beijos.

Então, a intensidade toma conta de nós numa excitação veloz e só o olhar atento de Dom José I nos embaraça o momento.

Estou finalmente nos teus braços que por fim abraçam os meus, como se fossem as âncoras das naus ou as velas das caravelas que outrora aqui atracavam.

Pelo Arco Triunfal sigo o teu sorriso quando me sorris e pela Rua Augusta sou eu que te sorrio enquanto me segues até ao Rossio.

Repara como nos sentimos a sós na Rua dos Sapateiros e como apenas estamos nós em plena Rua do Ouro.

Porque de noite, o brilho dos teus olhos reflecte-se nos meus, tal e qual uma montra na Baixa Pombalina que com a sua luz nos ilumina.

Fazemos da Praça de Dom Pedro V a nossa casa e do Teatro Nacional de Dona Maria II o nosso quarto.

Onde subimos ao palco para fazermos amor numa peça que encenamos com prazer enquanto estamos a foder.

 

 

É em Lisboa que te conheço e sei mais sobre ti, que te quero e desejo desde que te conheci.

Onde te estendo os braços e amparo o teu corpo como se fossemos casas pegadas numa rua da Graça.

Por entre vielas e acanhadas ruelas, trocamos beijos em becos estreitos encurralados na Mouraria.

Assim como as muralhas limitam o Castelo, as minhas mãos demarcam uma fortaleza no teu corpo.

Naquele momento, em que te entregas e eu me rendo, ficamos cercados pelos muros enclausurados dos palacetes da Madragoa.

Então, a sensualidade apodera-se de ti quando te insinuas para mim e Santa Clara fecha os olhos quando nos deitamos na relva do seu jardim.

Estou absolutamente perdido nas esquinas do teu corpo, nas travessas por onde passo e nos becos por onde entro.

Sempre que me incendeias e propago a tua chama, sinto os teus fluidos escorrendo pelo meu sémen como se fossem águas-furtadas num telhado de Alfama.

E é neste labirinto confuso de pátios e serventias em que uso e abuso do teu corpo por entre alfurjas e escadarias.

Onde te procuro e tu me encontras por detrás de roupas estendidas em arames de varandas com frestas e clarabóias de sótão esquecidas.

Porque o teu desejo é o meu ensejo mesmo num vão de escadas estreito e no corrimão beijo o teu corpo nos degraus onde te deito.

E numa calçada de pedra fria fazemos amor com poesia, enrolamos os corpos pelo chão como rimas calcetadas em versos loucos de paixão, deitados numa prosa de prazer enquanto estamos a foder.

É em Lisboa que penso em ti enquanto suspiro, que expiras para mim o ar que respiro. 

Onde sinto o teu cheiro no parapeito dum varandim do Chiado e persigo o aroma que emanas na Rua Garret até ao perfume que expeles na Rua do Carmo.

Por entre ruas paralelas e fachadas singelas caminhamos em sintonia por quarteirões desavindos.

Assim como o Bairro Alto acolhe os boémios, eu abrigo-te nos meus braços inebriado pelos teus beijos.

Naquele ápice em que não sabemos para onde ir, apanhamos o Elevador da Bica e continuamos a subir.

Então, a proximidade lasciva dos nossos corpos confunde-se com a promiscuidade vizinha daquelas casas.

Estou completamente excitado pelo teu alpendre, exaltado com o teu átrio e estimulado pelo teu pátio.

E nessa fonte em que corre o teu orgasmo, que no teu ventre é nascente, onde mato a minha sede e sou o teu afluente.

São sete, as colinas que pisamos por onde passamos e que se perdem nos contornos do teu corpo, onde nasceu esta cidade que em sete colinas nos acolhe.

Se os teus olhos são a Fonte Luminosa, a tua boca é o Jardim Botânico, com os teus lábios delineados como lírios delicados.

O teu peito é a Avenida da Liberdade, onde me perco num passeio demorado, em que chego aos Restauradores e demoro mais um bocado.

Contigo, nesta cidade sinto-me bem.

Comigo, tu estás tão bonita esta noite e Lisboa também.

É aqui que vivemos, que nos temos quando queremos, na cidade que nos viu nascer e onde sentimos prazer enquanto estamos a foder.

 

Um abraço...

SHAKERMAKER

 

Dedicado a ti... Vai mais um sorriso? Vá lá, eu faço o que fôr preciso!

honky tonk women por shakermaker às 00:00
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