Sexta-feira, 21 de Outubro de 2005

PUTA

(Ou assim se foi o meu mundo maravilhoso...)

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Tenho liberdade a mais. Liberdade para fazer o que quero, para fazer o que bem me apetece... Também sempre que quero, sempre que me apetece. E a liberdade tem destas coisas, é bom sentir que a temos mas é mau quando percebemos que somos livres demais. E eu sou livre! Sou livre de fazer, de sentir e de fugir para onde quero ir. Tenho liberdade de ficar onde quero estar e de sair quando não quero ficar. A liberdade que tenho é minha, fui eu que a conquistei... A mim, aos outros e a ele. Fiz-lhe ver que era liberal, que era moderna, responsável e todas aquelas coisas que dizemos mas não acreditamos, e sobre as quais mentimos para obtermos o que queremos. Foi isso que eu fiz, sem sequer ser exigente pois ele dá-me carta branca para fazer o que quero, quando quero e como quero. Perfeito, tudo o que uma mulher pretende de um homem, eu tenho... Ou quase tudo, que é como quem diz quase nada, se pensarmos que quem quer ser livre é porque se sente recluso mesmo não o sendo. A partir do momento em que uma mulher se quer desprender de amarras que não existem, invocando-se presa de um carcereiro também inexistente, está tudo perdido. O que ela quer mesmo é dar umas trancadas com aval do seu parceiro. Nem com o nosso corpo somos livres, pois não controlamos quem nos quer comer ou convencemos como queremos ser comidas. Até a porra do período, que vem a dias certos, chega quando menos desejamos, naqueles lugares onde estamos e que não nos dá jeito nenhum. Liberdade, a cona da minha prima, sem qualquer blasfémia familiar pois aquela mais parece o Parque das Nações… Ao fim de semana quase todos passam por lá. Não me recordo ao certo quando e porquê reclamei a minha liberdade mas fi-lo para estabelecer um ponto de viragem na nossa relação… O que no fim de contas se revelou um ponto sem retorno. Mas tudo isto não teve qualquer efeito na minha vida, tal como acredito que não o faz na vida de ninguém, pois o único acto de liberdade que temos é o nosso pensamento. Fazemo-lo quando queremos, sem que ninguém se aperceba que o estamos a fazer ou sequer imaginar em que estamos a pensar. Fazem-se revoluções e erguem-se muros para depois os deitar abaixo, assinam-se acordos e fazem-se juras e um sem número de merdas em nome da liberdade que se revelam grandes mentiras ou tretas infrutíferas… Por isso, eu também usei o mesmo método. Eu sempre fiz o que quis e o que me deu na real gana, isto apenas serviu para tornar oficial a minha vontade… E ele aceitou. Sem sequer se aperceber que não tinha outra alternativa, qual imputável inocente. Agora estava solta, que é como quem diz, de passarinha ao léu… E tudo isto em nome de uma liberdade que sempre tive mas que ele, coitado, pensa que ma cedeu. Agora olho-me ao espelho e ponho legendas no meu reflexo com traços de batom bem abaixo da minha imagem. Gaja, tu és tão puta.

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Tenho sede de viver. E isto é sempre uma boa desculpa para quem na verdade quer foder com que lhe apetece sempre que tem vontade. Mas é claro que deve haver uma explicação filosófica, ou até mesmo científica, que uma determinada gaja também rebarbada concluiu só para sacudir a água do capote. A desculpabilização da tesão está muito em voga e hoje em dia estamos todos ilibados de sermos uns depravados mesmo havendo encornados. - Sra. Doutora, enganei o meu marido. - Decerto haverá uma explicação deontológica para isso, não se culpabilize. Não é de estranhar que mal abandonamos o consultório nos atracamos ao primeiro gajo que se cruza connosco. Estamos doentes, precisamos de cama… E assim damos mais uma queca. Foi esta a primeira coisa que me veio à cabeça mal adquiri a minha liberdade, pois moralmente sentia-me desprovida de qualquer delito. Coisa que não sentia das outras vezes que me pus debaixo de um gajo, pois passava o tempo a olhar para o tecto, onde via reflectida a imagem do meu marido. Ora, isso não só atrapalhava a minha concentração no orgasmo, como também me deixava com uma culpa incomensurável qual carrasco arrependido. Foi então que percebi que precisava mesmo daquela requisição libertina, pois já que o andava a enganar, pelo menos que tivesse proveito sexual nisso… Mas a vida tem destas coisas, e assim que resolvemos um problema surge outro de imediato... Fiquei sem tempo para mim. Só não tinha agenda porque não quis deixar pontas soltas, mas com tantos encontros marcados, confesso que até tinha dificuldade em distinguir onde estava escalonado o meu marido. Foi numa dessas vezes que fui jantar a casa da minha sogra com um fato preto em látex e com o chicote dentro da mala, confundi os meus afazeres. Ele sempre me deu prazer na cama e esse facto por si só, é uma das razões pelas quais lhe ponho os cornos. É que ele não me dá espaço de manobra, sempre empenhado e entesado, com tanto de carinhoso como de fogoso. E então como ficam os parâmetros de comparação? Mas como raio é que eu posso viver sem ser mal fodida? A vida é feita de equilíbrios e eu sou uma balança com dois pratos mas aquele gajo só tem um peso e uma medida. Dizem que uma mulher nunca está satisfeita e que não gosta de rotinas, mais mentiras sobre a mesma treta. Olho para mim, e estava farta de ser comida da mesma maneira, pela mesma pessoa… Agora fodo com quem não decorei o nome à primeira e que me fode tal e qual como aquele que tem um nome parecido com o outro que me fodeu exactamente como este de quem não me lembro do nome. Não suporto coincidências, por isso não engano o meu marido duas vezes com o mesmo. Nem abdico da minha identidade e sei exactamente quem sou quando escolho um adjectivo que me defina. Gaja, tu és mesmo puta.

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Tenho a alma de um palhaço. Não sou capaz de estar muito tempo sem fazer merda, com tudo e aos olhos de todos. Tenho aquele jeito especial de dar cabo de uma situação que se traduz em destruir qualquer relação. No entanto, e por mais estranho que isso possa parecer, mantenho a mesma relação com o meu marido há tanto tempo que me perco na contabilidade, tal é o absurdo. Se houvesse um concurso para cabrões, ele por certo seria penta campeão, ou não... Já cheguei a questionar a minha percepção sobre nós, sobre ele e de como tudo isto parece tão bizarro. Mas não, ele é tão tanso que chega a dar pena, e eu para redimir a minha culpa enfeito-lhe novamente a testa. Fazer o quê? É a única maneira que encontro para conseguir expurgar o maldito sentimento de cabra reles que me tormenta após as fodas clandestinas. Mais paradoxal que tudo, é que mantemos a mesma relação desde que nos conhecemos. Passamos o mesmo tempo juntos, com a mesma proximidade de sempre e a minha atitude para com ele em nada mudou. Extraordinário, não sei como consigo fazer tudo isto bem nas barbas dele e o gajo, nada. Nem tosse, nem muge. Reconheço que ás vezes fico furiosa quando me passa pela cabeça que ele só pode estar a mangar comigo, mas depois pergunto-me porquê quando verifico que ele podia estar atracado a outra tipa qualquer, bem menos vaca do que eu. Pois, mas para isso ele teria que descobrir quem é na verdade a rameira que se deita a seu lado. E é no intervalo destas minhas dúvidas existenciais que me deixo comer por qualquer um… Talvez não seja assim tão pouco selectiva mas ultimamente deixei de me preocupar com isso. É claro que os prefiro ricos e saudáveis mas tenho dias que me contento com qualquer espécimen de barba por fazer e de ténis calçados. Quando estou numa de casting, opto sempre por caralhos bem engravatados que trabalhem em prédios de janelas espelhadas e que vivam em condomínios privados. Acho que esses são os menos chatos pois não se preocupam minimamente se nos vamos reencontrar ou sequer fazem perguntas descabidas. Nunca fui muito boa a esmorecer pistas e por vezes tenho que levar com pedestres saudosos que não entendem o jogo do fode e foge. Já dei por mim a avaliar os prós e contras de trocar de cama quando num determinado momento fui confrontada com um convite de ajuntamento com um executivo emergente que se embeiçou por mim. Pensei nisso com alguma convergência de vantagens para mim, mas por fim declinei. Acho que não estava disposta a pôr mais um cornudo na face da terra pois já os há quanto baste por aí ás marradas uns com os outros. Sou uma mulher de bom senso, por isso meço as consequências dos meus actos numa relação onde eu sei qual é o meu lugar e do qual não me absolvo. Gaja, tu serás sempre uma puta.

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Tenho medo de tamanha ansiedade. Chego a sufocar-me na minha própria angústia sem razão aparente para me sentir tão opressiva. Sou por natureza uma pessoa insatisfeita e o meu comportamento marital gera esta combinação infalível que vem em todos os cânones de psicologia humana. Uma adultera, vulgo puta, é por defeito definida como desequilibrada emocionalmente e sempre que penso nisto, interrogo-me sobre o que realmente quero para mim, para a minha vida. Não sei. Não faço a mais pequena ideia porque sou tão veemente para comigo, e quando começo a pensar demasiado neste assunto só me apetece fugir… Saio porta fora e vou à procura de homem. Não preciso de nenhum diagnóstico de uma qualquer psicóloga desenxabida, que quase de certeza vai concluir que tenho uma depressão. Bem pode pôr o parecer pelo cu acima pois eu tenho é imensa tesão e eu sei exactamente qual é o remédio santo que preciso… Uma boa foda! Que se diga em abono da verdade, não abundam ultimamente. Precisamente porque ando com a cabeça cheia de caraminholas pensando em tudo e nada ao mesmo tempo. Ou porque quero mudar de emprego pois já não suporto as pindéricas das minhas colegas, ou porque não gosto da cor dos cortinados que comprei para combinar com aquele sofá fatela que eu própria escolhi sabe-se lá porquê… Depois é a merda dos almoços todos os domingos em casa da minha sogra, mais a porra do visa que está sem saldo e o futebol de merda que o meu clube anda a jogar. Mas porque raio, sempre que vou almoçar, não encontro lugar para estacionar o carro? E quem disse a essa cambada de foleiros que fica bem usar as calças de fazenda vincadas e curtas? Mais parece que vão fazer cerimónia em dias de enxurradas… Ando agastada com quase todos os homens pois estão cada vez piores no minete. Andam ali, vai-não-vai, e eu é que não há meio de me vir. Não me recordo ao certo quando me comecei a preocupar com tudo o que me rodeia sem razão aparente para o fazer. Ou porque carga de água me inquieto com coisas sem importância e para as quais me deveria estar bem a cagar… Tenho saudades de quando me levantava da cama e a minha única preocupação era decidir o que vestir ou, e por mais estranho que me possa parecer agora que penso nisso, dar um beijo de bom dia ao meu marido. Lembro-me de como ficava excitada ao abrir os envelopes que ele me deixava debaixo da almofada, e de como passava todo o expediente a desejar que as horas passassem para sair do emprego e ir ao seu encontro para dar-mos uma foda. Assim se foi o meu mundo maravilhoso... Agora tudo me parece tão distante, só reconhecido nas cada vez mais evidentes rugas do meu rosto, que por mais que as disfarce, não consigo esconder os refegos que traçam aquilo em que me tornei. Gaja, és tal e qual uma puta.

 

Um abraço...

SHAKERMAKER

 

Em " Eu perverso, me confesso. "

honky tonk women por shakermaker às 00:00
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