Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2006

CARTA DE AMOR

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Escrevo com a mão trémula nestas linhas ainda despidas, e mal consigo firmar a caneta, de quão nervoso sinto que estou.

Suporta-me o erro enquanto componho e corrige estas palavras, mas rectifica-me cada engano se não forem adequadas. Não me estendas o parágrafo e dá-me um fio condutor, e toca-lhe ao coração numa missiva de amor. Diz-lhe que tudo faço, só para tê-la outra vez, e dá-lhe um tempo para pensar sempre que notes que não o fez. Ajuda-me na ortografia, emenda-me todas as gralhas, e escolhe a tua melhor caligrafia para disfarçar as minhas falhas. Carrega no sentimento, desperta-lhe atenção, e quando a sentires atenta, investe tudo no coração. Não me exponhas os defeitos, realça-me as qualidades, e oculta-me as mentiras com lamúrias e saudades.

Vai ao seu encontro e fala-lhe ao ouvido, volta depois para mim e traz-me notícias dela.

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Redijo tudo à flor da pele com palavras ainda em bruto, e imploro que me ajudes, que me tornes em quem não sou.

Intercede em meu indulto e rege-me outra oportunidade, na qual pretendo redimir-me mesmo não sendo verdade. Não me esboces um rascunho mas lamenta a minha dor, e atingia-a no coração num manuscrito de amor. Quero queixume e um tom, uma forma exacerbada, quero conteúdo e um mote, por cada palavra exagerada. E sempre que a hipérbole não me assista, dá-me pose delicada, e elogia-me com louvor para que fique deslumbrada. Diz-lhe o quanto penso no seu corpo e como sinto falta do seu cheiro, convence-a que ainda sinto amor e que sonho tê-la por inteiro. Diz-lhe o quanto a desejo, como a quero foder, e intercede a meu favor enquanto ela não ceder.

Vai em busca do seu perdão mas retorna para mim, e conta-me tudo o que sentiu ela.

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Entrego-me nas tuas folhas sem medo nem receio, confiando nas tuas rimas, nessas lágrimas que não chorei.

Escolhe uma grafia singela e as palavras mais sonantes, fá-la esquecer o passado e todas as minhas amantes. Não me resumas em contenda nem lhe atentes ao pudor, e aperta-lhe o coração nesta carta de amor. Jura-lhe votos que não posso cumprir e faz-lhe promessas mesmo sabendo que estou a mentir. Evita os pormenores e encobre-os com sentimentos, para que não se lembre do quanto sofreu e recorde apenas os bons momentos. Encosto os lábios no teu papel para que ela sinta o meu gosto e dou beijos sobre o seu nome para que esqueça o meu desgosto. Diz-lhe que sou sincero e que nunca me senti assim, fecha tudo num envelope mas antes assina por mim.

Vai em seu cortejo e conforta-lhe o rancor, vem de novo para mim e regressa com o seu amor.

 

Um abraço... 

SHAKERMAKER

 

Dedicado a um leitor irredutível do HTW... Caro amigo LM, porque os homens nunca vão deixar de ser como são, mesmo quando amam as suas mulheres.

honky tonk women por shakermaker às 00:00
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