Quarta-feira, 12 de Abril de 2006

OPA

 

 

Eu tenho sido vendida, comprada e abandonada. Fiquei suspensa no cimo, virada ao contrário e pendurada para baixo. Eu sei que me sentes respirar e até acreditas que é fácil. No entanto, tenho aguentado demasiado tempo submersa como um despojo que bateu no fundo.

Puxa-me para cima duma só vez.

 

Fui empurrada, roeram-me a corda e encheram-me os bolsos de areia. Tenho sido molestada e escorraçada, comida e cuspida. Fui ferida pelo gozo, persuadida e humilhada, e dei a outra face. Deixei de ter por tanto querer, sem poder reclamar por tudo perder.

Vinga-me sem perdão.

Perdi a pose, o meu lugar, e agora todas as portas se fecham na minha cara. Tudo o que deixei de sentir nunca me fez tanta falta, e as palavras que repeti foram todas desperdiçadas. Eu sei que sentes o bater do meu coração quando colocas a mão no meu peito. Porém, nem imaginas o esforço que faço para o manter aqui dentro.

Aperta-me contra ti.

Se não o fizeres, juro-te que volto e vou remexer nos teus remorsos. Vais ter uma surpresa sempre que te vires ao espelho e não adianta virar-me as costas. Eu posso acreditar no amor, mesmo que isso me ponha de joelhos.

Suplica-me que te arraste.

Posso ser tudo o que quiseres senão pretendes pedir demais. Nós podemos ficar juntos se ignorares tudo aquilo que dizem de mim. Eu sei que te pareço ser forte quando me vês de pé. Contudo, nem fazes ideia de como é difícil equilibrar-me nestes saltos.

Sou assunto sério, conveniente e envolto em mistério. Fui pegada, pousada e virada do avesso para voltar a usar. Eu sei que achas que tirei dividendos e que dei a volta por cima. No entanto, seria bem mais fácil se tu não soubesses como cheguei até aqui.

Poupa-me dos teus insultos.

 

Tenho sido esquecida e mantida em segredo para não dar que falar. Fiquei triste, desconfiada mas agora estou pronta para te armar uma cilada. Tenho decote certeiro, lábia quando paleio e sou uma boa foda.

Excita-me com prazer.

Posso fazer-te feliz enquanto outro não tomar o teu lugar. Entretanto, podemos dar um mergulho e esperar pela minha maré. Eu sei que pensas que o amor é uma praga mas só os ingénuos acreditam na sua quarentena. Nem te passa pela cabeça o que me custa manter o sorriso.

Despe-me e abusa de mim.

 

Devias sair dessa bolha antes de bateres no tecto e me caíres no colo. Para te sentires vivo, não importa o quanto respiras mas sim quantas vezes te faço perder o fôlego. Talvez me pudesses fazer feliz, mas não vamos pôr em causa toda aquela filosofia barata. Se não te deres por vencido, vais acabar por ser coagido, mas creio que é mais sensato partilharmos um quarto.

Leva-me agora contigo. 

Eu também hesito quando estás do meu lado e te esqueces da porta aberta. Porém, ignoro os pedestres que acenam e aguardo por outra oportunidade. Prefiro não deitar tudo a perder e todavia manter esta

Oferta Pública de Amor.

 

Um abraço...

SHAKERMAKER

honky tonk women por shakermaker às 00:00
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